quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ciranda




Gira o mundo, corre (não anda);
- e você, não sai do lugar?
Gira, velhinho, rode em ciranda,
que seu coração não sabe parar.
A lira, anjinho, entre pra banda;
daí ou daqui não se deixa de estar.
Cante baixinho, pede (não manda),
diga para si o que pode faltar.
Venha, plantinha, cumpre a demanda;
aos mudos aqui só resta dançar.
Percebe, maninho, quem vive debanda,
mas sempre na banda volta a cantar.



domingo, 12 de dezembro de 2010

CONTRA-ATAQUE A INOCÊNCIA


Segundo o Blog Universo Universal, o deputado Jair Bolsonaro (RJ), reage ao "KIT GAY" de "forma veemente, a essa vergonha que foi firmada em um convênio entre o Ministério da Educação (MEC), com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e a ONG Comunicação em Sexualidade (Ecos), conforme publicou o Correio Braziliense."

Não havendo espaço aberto para resposta - com comentário moderados, apenas duas opiniões estão publicadas - venho aqui expor a minha opinião publicamente. Não sou a favor do kit da forma que se expõe, mas é sim a primeira medida sócio-educativa que vejo ser incorporada à formação das crianças. Segue o link da postagem em questão e o vídeo, bem como meu comentário, que já acredito censurado.





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Dá pra continuar a discutir o assunto sim, deputado.

Na verdade, o que deveria ser motivo de vergonha são as suas palavras, e de algumas pessoas que aqui comentam. O que não é abordado no seu discurso é que o homossexualismo não é uma escolha, não há opção quanto a isso. A escolha que é sim feita entre muitos consiste em esconder o fato (por vezes até mesmo de si próprio) ou não. E, assim sendo, homossexualismo não se estimula; ninguém escolhe, ninguém quer ser homossexual. Quem em sã consciência escolheria a trilha mais árdua; um mundo de agressões diárias, verbal e fisicamente?

Daí se explica o por que de existirem inúmeros casados, sob o testemunho de Deus, traindo seus companheiros com pessoas de sexo semelhante. Daí também, em muito pior grau, os casos de reclusão social, depressão e até SUICÍDIO que incontáveis vezes, mesmo não noticiados, acontecem.

Por que seria um absurdo que as crianças tivessem acesso a um vídeo assim? Tenho certeza que não se trata de um vídeo erótico, mas sim educativo. Seria muito mostrar que existe um outro lado da moeda? Acolher as crianças, homossexuais, dizendo que não há nada de errado com eles? E demonstrar aos demais que existem pessoas assim, e que são iguais?

É uma afronta ao sr. tratar um homossexual seu como igual?

Pois se é um absurdo que crianças heterossexuais sejam expostas ao vídeo que mostra outrem em uma relação homossexual, como se classifica o mundo, o vídeo biográfico em que homossexuais vivem, onde só há a exposição de relações heterossexuais?

É de extrema importância que as crianças sejam educadas sim quanto a isso. Talvez o vídeo não seja a melhor opção, e nisso eu concordo com o sr., mas ainda assim é uma medida sócio-educativa, visando combater a homofobia logo na começo da formação do homem. Por que não contabilizar quantos casos de agressão e auto-punição podem ser evitados com isso? Por que ao invés de criticar desenfreadamente, o sr., de pensamento contrário (e, ao meu ver, retrógrado), não dispensa tamanha energia em uma contra-proposta? Criticar é fácil, e o clichê continua valendo. (Depois da censura, acredito que este continue valendo apenas para alguns, né?)





terça-feira, 12 de outubro de 2010

Soneto - Bocage




Os garços olhos, em que o Amor brincava,
Os rubros lábios, em que o Amor se ria,
As longas tranças, de que o Amor pendia,
As lindas faces, onde Amor brilhava:

As melindrosas mãos, que Amor beijava,
Os níveos braços, onde Amor dormia,
Foram dados, Armândia, à terra fria,
Pelo fatal poder que a tudo agrava;

Seguiu-te Amor ao tácito jazigo,
Entre as irmãs cobertas de amargura;
E eu que faço (ai de mim!) como não sigo!

Que há no mundo que ver, se a formosura,
Se Amor, se as Graças, se o prazer contigo
Jazem no eterno horror da sepultura?

(Sonetos, Bocage)

domingo, 26 de setembro de 2010

Kamikaze

.

O ônibus se fora, com um aceno de adeus. Faltava-lhe ainda cerca de um quilômetro a percorrer até a casa, mas a vontade era de andar a esmo, dando margem aos pensamentos vãos. À exceção das horas despendidas no escritório, onde se desligava totalmente de sua vida pessoal, já faziam longos oito meses que sua cabeça ebulia com o "egocentrismo adquirido" - forma como nomeou sua nova e curiosa incapacidade: a paixão.

Compreendia o porquê de muitas de suas atitudes, ou a falta delas. De início, tudo lhe parecia muito simples como matemática. Uma progressão aritmética, onde se subtraem de um número natural suas decepções, uma a uma. O resultado será sempre menor que o anterior e logo a paixão se esvai. Tudo seguia perfeitamente conforme a lógica, porém a lógica não lhe bastava. Sabia que se tratava de um sentimento, que para estes não há razão, e envergonhava-se por explicar tão sucintamente o que os mais renomados poetas passam a vida remoendo das formas mais rebuscadas. O letreiro luminoso lhe despertou a atenção. Foram quatro segundos fitando-o até decidir entrar e mais quinze para encontrar um assento disponível frente ao bar.

- Kamikaze, por favor.

Realmente curioso era que quanto mais se dedicava ao enigma pessoal, mais se distanciava da solução. Se antes possuía a resposta na palma das mãos, agora a mesma era fluída, instável, escapando-lhe mais por entre os dedos a cada sinapse realizada. Imaginou a possibilidade de estar apaixonado pela paixão, tamanho o transtorno que a mesma lhe causara com sua ausência. Buscou por ela em diversos corpos, mas baldaram-se os esforços - tornara-se, mesmo, incapaz de apaixonar. Seria ela a razão de sua existência? Lembrou-se de sua mãe. Até então pensara em paixão, sem se dar conta do amor. No instante seguinte cogitou loucura. Pegou a taça que lhe fora servida e tomou 3/4 do drinque em um gole. A bebida, feita com vodka e limão, era amarga como a vida. Sentiu sua coxa tremer, e num toque constatou o celular vibrando.


- Oi querido! É a Rita! - disse de prontidão a voz no outro lado da linha. - Nosso rendez-vous ainda está de pé?

- Claro! Chego em 40 minutos.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dúvidas




De que vale o conhecimento parco?
E de que vale o sentimento vão?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Cândida

...

Quero tanto acreditar nesse sussurro tão manso e sem sobressalto
que fazem com tanto charme, assim, ao pé do ouvido.
Quero tanto ser burro e cegar-me o sonho em vôo alto,
atrapalhar-me, ludibriar-me, ser traído e, ainda assim, agradecido.

Quero tanto acreditar nos mitos e lendas, nos tantos contos ditos,
em Papai Noel, Fada do Dente, Homem do Saco e no Amor.
Quero tanto acreditar nas comendas quanto acredito nos eruditos,
ser ingênuo, imprudente, desconhecer a lógica e também a dor.

Nada de sinapses em minha cabeça; arranquem-me os neurônios,
façam-me fantoche e falem por mim. Não quero responsabilidades,
mas ser criança travessa e livre - livre dos homens, dos demônios.

E se o preço é caro pela crença, mais ainda por vaidades.
Talvez seja este o meu fim, o de Josés, Luizes e Antônios:
morrer não por doença, mas por perceber verdades.
.
.

domingo, 18 de julho de 2010

Hit the road

..

Prezo a verdade e tento ser sincero com todos, inclusive comigo mesmo. É a minha condição, o caminho que me propus a percorrer, ainda que desacompanhado. Mas confesso que algumas vezes, quase nunca e só por alguns instantes, uma pontinha de inveja me persegue. Acelero, freio num repente, tropeço de propósito e, quando levanto, já estou sozinho novamente.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sobre ser e estar


Sou o sangue que dispara nas veias salientes
e segue sem sequer definir direção.
Dos caminhos percorríveis e cativos tal correntes,
sou sempre o sim, o talvez e o não.

Eis que me vejo em mutação constante,
e da inércia não me faço submisso.
Sou intempérie desfeita num instante;
mas sou torpor, e que de mal há nisso?

Faça-me passagem, trem ou estação;
agora que percebo o que já sou,
tente levar-me alma, corpo e coração.

Mas saiba que tudo pode ser em vão;
perceba que ao invés de ser, estou,
um vórtice, uma constante evolução.

domingo, 13 de junho de 2010

Dias airados


Almoçou às dezesseis, saiu com amigos, bar e balada, jogou cartas e conversa fora, comprou pão e gente, jantou. Cansado que estava, atirou-se sob os trapos de Morfeu, para levantar às quatorze de sabe-se lá que dia. Viu pai, mãe, irmãos, filhos, primos, avós, cachorro, gato e papagaio, que cantarolou Banho de Lua em sua homenagem - banhou-se três vezes, só para refrescar. Foi feliz em seu ócio sem hora marcada, até o soar do despertador... de novo, segunda, de novo?

sábado, 12 de junho de 2010

Solidão consentida

..


Parte 1:

Frio e solidão emanam de seu corpo e lhe fazem encolher sob as cobertas, tal qual feto no útero. Olha para fora, e por um instante acredita estar nevando. Apenas a sujeira que granula o céu e emoldura a cidade em tom de sépia, como retrato de um passado remoto. Há quanto tempo não vê o sol?

Parte 2:

O vento que parece assoviar Carmem prolonga "l'amour" para irromper no chacoalhar arrotado dos vidros semi-soltos de sua velha janela coberta de pó. Jamais aberta, nenhum outro sentimento conseguirá entrar aí.

Parte 3:

A espera da ligação que nunca vem, você busca o nome em sua agenda a fim de tomar frente na decisão. Ocorre que não quer ouvir uma voz específica, mas qualquer uma que dê identidade à um amigo. Todos mudos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Rejeitado em si



Uma descarga,
e um fluxo de insalubridade contínua,
e o caldo espesso e espuma abrindo caminho,
e já não há mais oxigênio aqui,
e o cheiro, o podre que faria cair um nariz,
da água fétida percorrendo os canais infindos,
e os ratos à margem que acompanham em bandos
os peixes e esterco que boiam e seguem o ritmo
num simulacro da vida que já não há mais aqui,
e na curva outro despejo clandestino,
amônia e uréia correndo e limo,
e o sexo, o imundo, o gozo,
e agora se segue outro rumo,
e sangue, muito sangue,
e agora é a lâmina quem abre o caminho,
e é vinho, é verde e vinho,
fluindo, saindo, caindo
e indo,
se indo,
sê indo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Verossimilhança



Estava cansado, mas não conseguia dormir.

- Hoje me sinto franco, soltou. Ocorre que, a princípio, o intento era dizer que estava fraco. O turbilhão de pensamentos acabou por expor a palavra torta, que depois de pronunciada, não lhe soou menos verdadeira. Comparou-se a um franco-atirador.

sábado, 1 de maio de 2010

Sentidos




Senti o vigor, o frenesi das hemáceas pulsando nas veias. Desejou cada parte intocável de mim. Segui seu olhar percorrendo meu rosto - olhos, nariz, lábios, meus cabelos que em cachos caíam sobre os seios para depois voar, rodando junto ao corpo: noutro segundo já ocupavam o lugar dos pés. Sua língua me acompanhava em círculos por dentro da boca, a ponta contornando-a e marcando a pele, parando apenas para engolir a saliva e mordiscando o lábio em sinal de tesão contido. Das vezes que esquecia de fazê-lo, o corpo não mais respondendo ao cérebro, pingava-lhe a baba sobre as calças, que manchavam também pelo avesso. Não fossem os movimentos involuntários de suas cabeças poderia acreditá-lo estátua, tamanha a concentração que detinha em mim. Mais um rodopio. Fiz do ar meu colchão, os peitos apontando para o paraíso, as pernas abertas em ponto de fuga, que não demorou a percorrer. O pé curvado evidenciava a ponta do salto vermelho carmim, impecavelmente alinhado com a perna. A pele macia e marcada pela meia arrastão confundia o olhar, mas não o desviava. Ele sabia onde queria chegar, e eu também. Um desconforto. Deslizei, tirando-lhe o foco novamente. Era ele apenas mais um bêbado, tal qual outro qualquer neste puteiro. Por que motivo haveria eu de me encantar?

terça-feira, 16 de março de 2010

Nouvelle

Se por vezes quis saber o significado da vida, se por vezes deu a ela quantos e tantos significados, tantos insignificantes, agora sabe o que significa viver. Sabe que vinte e quatro horas são oitenta-e-seis-mil-e-quatrocentos-segundos, e deixa ser, tecer; deixa e faz acontecer. Elege coadjuvantes, e ainda se anima, empolga, cresce. E ainda se desanima, desola, entristece. Apenas coadjuvantes, poucos são os papéis principais. (...) Hoje, aprecio rosas brancas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vida efêmera

O tempo é um instante constante.
Dê valor aos bons instantes que a vida lhe proporciona, mas não esqueça que serão sempre, e apenas, instantes.