quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pães, queijos, tapas e beijos.



Ei, me escute, observe que a noite cai fria ao desalentado, e que este também cai frio, num desespero contido, e numa voz também contida, rouca, ensaia um grito, quase uma súplica, quase inaudível, um sussurro, Cale-se, pare e escute, há de requerer algum esforço, Cadê meu pé de meia?, é o que diz.

Que inferno, sei o que está pensando, tomei-lhe tempo com isso, um pé de meia, diz ele e quase não se escuta, mas pense se não é poético, o desalento rogando abrigo, o aquecer, o verbo, a ação de um objeto inanimado, e quanta poesia não existe em uma meia, esse pedacinho de pano em formato de "L" e algodão cruzado, um ângulo reto, percebe a comparação, e pense que pode isso representar para ele, pobre coitado, pois que pé de meia pode ter outros significados, outras relações, o amante à amada, o faminto à comida, a metáfora de platão, questionemos, mas veja que de poesia nada há, nem rima nem verso, aliás, não há nada em absoluto, quase nada, é o frio, é uma meia, é gente, vê, sente frio, e é só.

Percebe também, por vezes mais vale manter-se desiludido, pois que a noite cai fria por toda a parte, que o frio aqui é sensação física, e esta nada tem de psicológica, tampouco poética, mesmo que seja um rumo atraente, mesmo que muitos o queiram, seja eu ou você, sejamos carentes ou não de alento, o primeiro ou último alento, que é só hálito, sopro, e nada mais.