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O ônibus se fora, com um aceno de adeus. Faltava-lhe ainda cerca de um quilômetro a percorrer até a casa, mas a vontade era de andar a esmo, dando margem aos pensamentos vãos. À exceção das horas despendidas no escritório, onde se desligava totalmente de sua vida pessoal, já faziam longos oito meses que sua cabeça ebulia com o "egocentrismo adquirido" - forma como nomeou sua nova e curiosa incapacidade: a paixão.
Compreendia o porquê de muitas de suas atitudes, ou a falta delas. De início, tudo lhe parecia muito simples como matemática. Uma progressão aritmética, onde se subtraem de um número natural suas decepções, uma a uma. O resultado será sempre menor que o anterior e logo a paixão se esvai. Tudo seguia perfeitamente conforme a lógica, porém a lógica não lhe bastava. Sabia que se tratava de um sentimento, que para estes não há razão, e envergonhava-se por explicar tão sucintamente o que os mais renomados poetas passam a vida remoendo das formas mais rebuscadas. O letreiro luminoso lhe despertou a atenção. Foram quatro segundos fitando-o até decidir entrar e mais quinze para encontrar um assento disponível frente ao bar.
- Kamikaze, por favor.
Realmente curioso era que quanto mais se dedicava ao enigma pessoal, mais se distanciava da solução. Se antes possuía a resposta na palma das mãos, agora a mesma era fluída, instável, escapando-lhe mais por entre os dedos a cada sinapse realizada. Imaginou a possibilidade de estar apaixonado pela paixão, tamanho o transtorno que a mesma lhe causara com sua ausência. Buscou por ela em diversos corpos, mas baldaram-se os esforços - tornara-se, mesmo, incapaz de apaixonar. Seria ela a razão de sua existência? Lembrou-se de sua mãe. Até então pensara em paixão, sem se dar conta do amor. No instante seguinte cogitou loucura. Pegou a taça que lhe fora servida e tomou 3/4 do drinque em um gole. A bebida, feita com vodka e limão, era amarga como a vida. Sentiu sua coxa tremer, e num toque constatou o celular vibrando.
- Oi querido! É a Rita! - disse de prontidão a voz no outro lado da linha. - Nosso rendez-vous ainda está de pé?
- Claro! Chego em 40 minutos.
Oi sr. Lindo!
ResponderExcluirNão resisti e vim reler seu texto.
Não sei dizer, se seria um conto ou uma crônica.
Mas, de uma forma ou de outra, fiquei muito curioso, com as coincidências e possíveis verdades imbuídas nas entrelinhas.
Será que deveria ficar feliz, preocupado, ambos? Será que deveria me preocupar com a minha vida, ao contrario de ficar projetando-a em textos "alheios", vendo significados onde deveriam haver simplesmente palavras?
Será que é possível as palavras serem expressas simplesmente com um objetivo, sem a influencia dos sentimentos do escritor?
Retóricas? Acho que não, as verdades estão estranhas ultimamente, concorda? rs
Não era pra ser um comentário tão grande, nem de longe tão "sério", mas veio assim...
Ahh... vamos conversando vai...
Beijo!