sábado, 1 de maio de 2010

Sentidos




Senti o vigor, o frenesi das hemáceas pulsando nas veias. Desejou cada parte intocável de mim. Segui seu olhar percorrendo meu rosto - olhos, nariz, lábios, meus cabelos que em cachos caíam sobre os seios para depois voar, rodando junto ao corpo: noutro segundo já ocupavam o lugar dos pés. Sua língua me acompanhava em círculos por dentro da boca, a ponta contornando-a e marcando a pele, parando apenas para engolir a saliva e mordiscando o lábio em sinal de tesão contido. Das vezes que esquecia de fazê-lo, o corpo não mais respondendo ao cérebro, pingava-lhe a baba sobre as calças, que manchavam também pelo avesso. Não fossem os movimentos involuntários de suas cabeças poderia acreditá-lo estátua, tamanha a concentração que detinha em mim. Mais um rodopio. Fiz do ar meu colchão, os peitos apontando para o paraíso, as pernas abertas em ponto de fuga, que não demorou a percorrer. O pé curvado evidenciava a ponta do salto vermelho carmim, impecavelmente alinhado com a perna. A pele macia e marcada pela meia arrastão confundia o olhar, mas não o desviava. Ele sabia onde queria chegar, e eu também. Um desconforto. Deslizei, tirando-lhe o foco novamente. Era ele apenas mais um bêbado, tal qual outro qualquer neste puteiro. Por que motivo haveria eu de me encantar?

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