Interrogação sim, posto que não sei bem o que é isto, se crônica, conto, poesia, desabafo, diarréia, realidade ou ficção, melhor dizer o que não é, pois certo de que não é crítica, e duvidoso se realmente é, ou apenas está, como um acontecimento passageiro, como tudo, enfim, pouco importa, à dúvida não restam respostas.
Eram vinte horas e cinquenta e sete minutos e uma cabeça. Seu cérebro, entorpecido, pensamentos misturados em turbilhão, Valerá a pena? Será gostoso. E depois, o que será? Valerá a pena. Será gostoso? Os neurônios não chegam à um consenso, as veias se destacam mais e mais a cada sinapse realizada. Aos olhos, boca, ouvidos, às veias já salientes sob a têmpora, o sangue em frenesi tamborila descompassado. O silêncio é mesmo ótimo para enfatizar os ruídos do corpo. Tum. Tum. Tum. A vista no pulso, a mão vermelha, macia e vermelha, suada, carmim, gotejando perfume? suor? sangue? Tum. Tum. Tum. Foram três pulsações num segundo, é, o tempo é mesmo relativo. Nove horas. Tum. Tum. Tum. Olhos pro horizonte, graças a Deus, lá está, vêm sorrindo, que dentes lindos, chega brilham, tão brancos como nuvens? porra? micose? Melhor não pensar nisso agora, há coisas mais importantes a fazer, um passo por vez, o primeiro é o degrau do ônibus.
Sentam-se juntos, no fundo. Por enquanto estão a sós, mãos dadas, o que pode parecer romântico, mas não há tempo para romances, não agora, quem sabe um dia, quem sabe 1° de abril, mas agora atém-se apenas em notar quem está por vir e onde se acomodarão? incomodarão? Parece que não, mas, droga, as coisas nunca são como parecem ser, e lá vem um sentar ao lado, o dedo como que coreografado no nariz, entra-e-sai-e-desce-e-gira-e-volta-para-a-boca. Logo dormirá, não se preocupe, é o que diz, mas acho que a preocupação cede à vontade antes mesmo do primeiro ressonar do motor. São agora vinte e uma horas e trinta minutos, e na esquerda macia e carmim contam-se dez dedos entrelaçados, mas logo contar-se-ão mais cinco, e além destes, duas pernas, dois braços, peito e abdômen peludos, pinto e bunda. Os lábios percorrem corpo, pescoço, queixo, língua, dando margem aos beijos apaixonados? carentes? masoquistas? A única certeza nestes é o prazer de ambos, que gozam um do outro, e o homem, ao lado, que goza também de ambos, safado este diga-se de passagem, que preteriu o sono ao voyeurismo descarado. As mãos afagam os rostos, mas não há chance para o romance, vinte e três que são, já chegaram ao seu destino, e logo tratam de descer.
Cada qual para um lado, segue a vida, como se não se conhecessem em todos os sentidos, e com todos eles também. Olha para trás, e lá se vai o sorriso? o branco? a nuvem? a porra? micose? o sangue? o suor? a paixão? a carência? o masoquismo? Não importa, agora já foi, já virou ponto na vista, não mais o enxerga, ao menos até amanhã. Chega em casa, boa noite querido, como foi seu dia, tomam banho, comem algo, riem, vão dormir, o sexo para depois.
Interrogação...
ResponderExcluirO texto é ótimo, empolgante, ritmado, pulsante, perfeito.
Mas, mesmo assim, penso: "MEDO"!rs
Inevitável identificação!
Enfim.
Ah... onde se encontra a dúvida?