segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sobre ser e estar


Sou o sangue que dispara nas veias salientes
e segue sem sequer definir direção.
Dos caminhos percorríveis e cativos tal correntes,
sou sempre o sim, o talvez e o não.

Eis que me vejo em mutação constante,
e da inércia não me faço submisso.
Sou intempérie desfeita num instante;
mas sou torpor, e que de mal há nisso?

Faça-me passagem, trem ou estação;
agora que percebo o que já sou,
tente levar-me alma, corpo e coração.

Mas saiba que tudo pode ser em vão;
perceba que ao invés de ser, estou,
um vórtice, uma constante evolução.

domingo, 13 de junho de 2010

Dias airados


Almoçou às dezesseis, saiu com amigos, bar e balada, jogou cartas e conversa fora, comprou pão e gente, jantou. Cansado que estava, atirou-se sob os trapos de Morfeu, para levantar às quatorze de sabe-se lá que dia. Viu pai, mãe, irmãos, filhos, primos, avós, cachorro, gato e papagaio, que cantarolou Banho de Lua em sua homenagem - banhou-se três vezes, só para refrescar. Foi feliz em seu ócio sem hora marcada, até o soar do despertador... de novo, segunda, de novo?

sábado, 12 de junho de 2010

Solidão consentida

..


Parte 1:

Frio e solidão emanam de seu corpo e lhe fazem encolher sob as cobertas, tal qual feto no útero. Olha para fora, e por um instante acredita estar nevando. Apenas a sujeira que granula o céu e emoldura a cidade em tom de sépia, como retrato de um passado remoto. Há quanto tempo não vê o sol?

Parte 2:

O vento que parece assoviar Carmem prolonga "l'amour" para irromper no chacoalhar arrotado dos vidros semi-soltos de sua velha janela coberta de pó. Jamais aberta, nenhum outro sentimento conseguirá entrar aí.

Parte 3:

A espera da ligação que nunca vem, você busca o nome em sua agenda a fim de tomar frente na decisão. Ocorre que não quer ouvir uma voz específica, mas qualquer uma que dê identidade à um amigo. Todos mudos.